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Imunidade sexual

por Martha Medeiros, no livro "Montanha Russa"

8 de março é o dia internacional da Vilma, aquela mulher que foi capaz de entrar num hospital e roubar uma criança recém-nascida, lixando-se para o sofrimento da mãe biológica, lixando-se para as mentiras que teria que contar a vida inteira, lixando-se para a lei, e, não contente com isso, repetiu o golpe anos depois, roubando outra criança de outra mãe, e a gente reluta em chamá-la do que ela realmente é - uma vigarista -, porque ela alega ter feito o que fez por amor. porque deu amor às crianças, e amor pra lá e amor pra cá... Como a maternidade é redentora, mesmo a maternidade fajuta.

Eu peguei o exemplo da Vilma como poderia ter pego o exemplo de outras tantas mulheres que não são sublimes nem maravilhosas mas que parecem ter nascido indultadas de todos os pecados pelo simples fato de serem mulheres, e como tais, com a possibilidade de virem a ser mães, e, portanto, santas por antecipação.

Ser mulher não é atenuante, ou não deveria ser. Mulheres fraudam a previdência, mulheres cuidam de cativeiros onde os filhos de outras mulheres ficam seqüestrados, mulheres obrigam suas crianças a pedir dinheiro quando o sinal fecha. Curvilíneas mulheres, doces mulheres, apaixonantes e apaixonadas mulheres, mas que também saber ser bem sacanas.

Eu sei que o momento merece que se enalteçam os mulherões, as que trabalham, educam, cozinham, arrumam a vida de todos e ainda são amorosas e divertidas. São estas mulheres que fazem parte da sua turma? Então 8 de março deveria ser o dia internacional da sua turma, da nossa turma. O dia internacional das nossas vizinhas. O dia internacional do nosso grupo de estudo. O dia internacional das nossas colegas de academia. Não o dia internacional de todas as criaturas que nasceram com cromossomos XX, como se isso nos desse imunidade.

A nosso favor temos a história individual de cada uma. A nosso favor temos a oportunidade de assumir diversos papéis e de dar conta direitinho de cada um deles. A nosso favor temos todos os direitos que conquistamos de alguns anos pra cá e a solidariedade de lutar por aquelas mulheres que ainda não conquistaram os seus. E temos, sim, a nosso favor, o privilégio de poder gerar filhos, ou de adotá-los legalmente, e de sermos mães, entre tantas outras experiências igualmente fantásticas. Ter orgulho de ser mulher, só por ser mulher, apenas por isso? Calma aí. Tenhamos orgulho de ser o que a gente é, tenhamos orgulho de ter feito amigos verdadeiros, de trabalhar, de ter ajudado a constituir uma família honesta e batalhadora. Que 8 de março seja o dia internacional das pessoas bacanas, usem batom, ou bigode, ou ambos.

4 registraram seu vôo por aqui:

Luciana Andrade disse...

Seu post me lembrou uma música que diz " você é maluca, você é malandra...só não é massa"
Acho que existem pessoas (que nem deveriam ser classificadas assim) capazes das maiores barbaridades...Independente de sexo, credo, cor da pele...
Gostei do post.. bem verdadeiro.. amei suas visitinhas...
beijos meu

Estava Perdida no Mar disse...

Se a gente soubesse gerar coisas boas da mesma forma de como sabemos gerar vidas...o mundo seria bem melhor

[P] disse...

Simplesmente ADORO a Martha! Ela tem uma sensibilidade ímpar para transformar o que poderia ser lugar-comum em novos pontos de vista, como neste texto que você postou.

Um beijo!

ps: brigada pela visita e, oh, eu também acabaria rindo, se a situação fosse com outra pessoa, claro!

:)

Anônimo disse...

Martha Medeiros me encanta!! =)

Obrigada pela visita!!
Beijoos