RSS Feed

..:: Chuva forte

[foto by pixdaus]


Chove
E a chuva esperada encontra um cenário feio

Na rua de trás, a chuva se mistura ao sangue
O produto das veias de bandidos torna-se lama
O som da chuva dá lugar ao barulho ensurdecedor das rajadas de metralhadoras
A rua da minha rotina tem marcas de balas
Há medo por todos os cantos
E a chuva cai ali

Chove aqui, e eu me transformo em nuvem para chover junto
Chuva forte, intensa, constante
Que simboliza em si toda a minha tristeza
Chovendo por todo o dia, desde um trovão que não partiu de mim
Bastou um som pra vir o que me fez chover assim...

Chove no mar por cima do asfalto
As ondas virtuais batem com força
E o barquinho que parecia crescer é balançado
Arrebatado em uma onda forte
Aquele que no início confiou tanto que se dispôs a remar junto
(aquele que já está sumido)
Esse dá sinal de que vai deixar o barco
Não há julgamentos, não há culpas, não há forças
Esse barco ameaça se perder
E os que o comandam voltam a ter a dúvida do parar

Há medo por todos os cantos
Ah, como a chuva forte nos deixa sem destino!
Raios riscam o céu e os trovões me amedrontam

Só faço chover junto
Mesmo que no barco haja uma nova tripulante
Mesmo havendo um novo perfume
Mesmo que o coração esteja aberto para o melhor
Mesmo sabendo que o que sai de mim é bom
Mesmo assim não consigo impedir o meu chover

Oh, meu Deus, venha ser o meu farol!

Eu que gosto tanto da chuva
Desta vez me perco em suas nuances cruéis
Lembranças boas e um bom vento de futuro
Nem isso impede que os trovões me amedrontem
E esse chover que não cansa
Que não se esgota em mim

Resta-me saber o resultado dessa chuva:
se será lama
ou o regar para um novo florescer
Lathife Cordeiro

12 registraram seu vôo por aqui:

Anônimo disse...

A rua da minha rotina tem marcas de bala. Uau...
Gostei da intensidade do poema que ficou na pele e no avesso dos olhos. As propriedades parecem grafar na pele uma forma de dor, de medo e receio de forma tão intensa. Belo poema, uma escultura de palavras...

Luciana Andrade disse...

Ah bela, se o barco é abandonado nos resta remar sós...Mas garanto que fará grandes descobertas remando sozinha...
Beijos meus

Comissão Pró-Índio de São Paulo disse...

regar para um novo florescer, moça!
belas linhas

Janaina disse...

Ai que coisa linda... é muito altruísmo.

Quanto ao selinho, é só copiar e colar. Eu peguei na página da Fenaj.

Beeeijos!!

Anônimo disse...

Muito belo o seu poema. Lindíssimo, parabéns pelas palavras!
Bjosss

Márcia(clarinha) disse...

"Chove aqui, e eu me transformo em nuvem para chover junto"
........
Querida flor, aplaudo seu belíssimo texto.

lindo final de semana
beijos

Nathália E. disse...

Desejo tanto que seja a segunda opção.

Da Silva disse...

Mas é da Lama que surge a vida.

"O ouro afunda no mar
Madeira fica por cima
Ostras nascem no lodo
gerando pérolas lindas..."

"O Ouro e a Madeira"
Délcio Carvalho

Dirciana Carvalho disse...

Não e um texto de uma jornalista,e a percepção aguçada de uma menina que se faz chover não pra se misturar ao sangue,mas pra florescer.Flor do dia obrigada por colorir meu jardim com a sua docura seu coloridso,não da chuva mais do arco-iris quwe mora em ti .
Bjusssssssssssssss
Adoroooooooooooo!!!
Dircy

Anônimo disse...

Que intenso! Uma chuva forte que deixa marcas, que lava, que transforma. Uma mistura de águas calmas e tempestuosas!!
Que delícia de poema!!!
Beijos

Mariah disse...

a chuva pinta o vidro e impede a visão.
molha os cabelos e a barra das calças.
esconde os buracos da rua.
leva o barro do alto até embaixo.
carrega a poeira.
prende a gente do lado de dentro da vidraça...pra que a gente fique pensando...pensando na chuva!

beijos
mariah

. fina flor . disse...

querida,

chuva alguma que brote de ti se tornará lama.

as águas que exala colorem o mundo!!!

feliz por você ter voltado a poetar.

ficou lindo.

beijos,

MM.